ASAS BRANCAS
"Quando era pequenino a desventura
Trazia-me saudoso e triste o rosto,
Assim como quem sofre algum desgosto,
Assim como quem chora de amargura.
Um anjo de asas brancas muito finas,
Sabendo-me infeliz mas inocente,
Cedeu-me as suas asas pequeninas,
Para me ver voar e ser contente.
As asas de criança, meu tesoiro,
Ao ver-me assim tão triste, iam ao céu...
Tão brancas, tão macias -- penas de oiro --
Tão leves como a aragem... como eu!
Cresci. Cresceram culpas juntamente,
Já grandes são as mágoas mais pequenas!
As asas brancas vão-se... e ficam penas!
Não mais subi ao céu, nem fui contente."
...Quando era bem pequenina, pegavas-me ao colo e tudo parecia mudar de repente
Fugiam os medos e voltava o riso, sentia-me grande embora sendo tão menina
Hoje apetece-me pegar nesse par de asas, subir ao azul do céu acinzentado dos teus olhos
Dar-te um beijo, sorrir para ti e saltar para os teus braços, no abraço que te deixo
Quem parte fica sempre no nosso coração
No todo do tudo que em mim és, PAI
(23/3/1923 - 3/11/2011)