domingo, 10 de janeiro de 2010

Às vezes nevava



Castelo Branco

A NEVE


«Às vezes nevava.
O céu oferecia a neve para poder entrar na folia,
como qualquer de nós cedia a bola para entrar no jogo.
Os dedos só gelavam nos primeiros instantes.
Daí a pouco tempo, as mãos ardiam como brasas.
Às vezes nevava.
Era um lençol branco e imenso, quase sem limites.
Mesmo assim, alguns levavam braçadas de neve para casa,
na esperança de que assim não derretesse.
Uma qualquer espécie de alquimia
haveria de conservar o gelo
e transformá-lo em miragem perene e mágica,
para íntimo deleite.
Às vezes nevava.
Fazíamos anafados bonecos com apêndices postiços,
bolas de arremesso,
construções que a imaginação
e a quantidade de gelo permitiam,
escorregas improvisados.
Às vezes nevava
sem sabermos muito bem porquê,
nem o préstimo de tanta alvura. »


DE: João De Sousa Teixeira
EM
:"CORPO DE POEMA "



Castelo Branco

Às vezes nevava

Como há muito tempo não fazia

Hoje a cidade vestiu-se de branco

Lavou-se de mágoas e trouxe magia

*

Às vezes nevava

E hoje ao abrir a janela por ela

entrou silenciosa no seu encanto

desfez-se em água pura alegria

*