«Nasce mais uma vez
Menino Deus
Não faltes, que me faltas
Neste inverno gelado.
Nasce nu e sagrado
no meu poema,
se não tens um presépio
Mais agasalhado » Miguel Torga
Quando olhares o céu, uma estrela é sempre mais brilhante, transforma o escuro em luar. Quando ouvires uma melodia triste, ao amanhecer, o canto do rouxinol tudo inverte!
Se uma mágoa quiser apoderar-se de ti, deixa o quente do sol beijar-te o rosto. Se tiveres as mãos vazias deposita nelas a suave cor, o toque de uma rosa. (21 janeiro 2007)
«Que negra sina ver-me assim Que sorte vil degradante Ai que saudade eu sinto em mim Do meu viver de estudante
Nesse fugaz tempo de Amor Que de um rapaz é o melhor Era um audaz conquistador das raparigas De capa ao ar cabeça ao léu Só para amar vivia eu Sem me ralar e tudo mais eram cantigas.
Nenhuma delas me prendeu Deixá-las eu era canja Até o dia em que apareceu Essa traidora da franja
Sempre a tinir sem um tostão Batina a abrir por um rasgão Botas a rir ,um bengalão e ar descarado A vadiar com outros mais Ia dançar para os arraiais Para namorar beber, folgar, cantar o fado
Recordo agora com saudade Os calhamaços que eu lia Os professores da faculdade E a mesa da anatomia
Invoco em mim recordações Que não têm fim dessas lições Frente ao jardim do velho campo de Santana Aulas que eu dava e se eu estudasse Onde ainda estava nessa classe A que eu faltava sete dias por semana
O Fado é toda a minha fé Embala, encanta e inebria Pois chega a ser bonito até Na radio - telefonia
Quando é tocado com calor Bem atirado e a rigor É belo o Fado, ninguém há que lhe resista É a canção mais popular, tem emoção faz-nos vibrar Eis a razão de eu ser Doutor e ser Fadista»
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O "Fado do estudante" foi interpretado pela primeira vez por Vasco Santana no filme "A Canção de Lisboa" de Cottinelli Telmo.
Realizado em 1933, foi o primeiro filme sonoro feito em Portugal.
...era uma caixinha com aplicações de madrepérola, o guarda-jóias que poderia estar em cima de uma cómoda, no quarto de minha mãe. Talvez com anéis, pulseiras e , quem sabe, algum bilhete especial, bem dobrado e guardado cuidadosamente....
Aquele guarda- jóias não era meu mas cuidava-o como se o fosse! Não tinha ouro ou missangas, bilhetes nem segredos ; apenas os pequenos espelhos, divisórias em veludo vermelho, a bailarina e um botão de corda!
Pé ante pé, quantas vezes me escondi num cantinho da sala grande para lhe tocar. Devagarinho, levantava a tampa e via aquela bailarina vestida de tule rosa. Rodava, rodopiava e eu não me cansava de a olhar! Repetia vezes sem conta o mesmo gesto de lhe dar corda para mais um instante mágico de dança....
Hoje ainda está no mesmo lugar. Quando o vejo, nem sempre o abro... Olho e sorrio para mim.Por breves instantes relembro esses tempos, outros tempos, de menina.
Talvez haja um tempo certo para sentir a magia de uma caixinha de música (ou não!) .
Chuva ou sol nem sempre importa! O tempo que faz não corresponde ao tempo que temos ou inventamos ,se queremos!
Damos a desculpa da falta de tempo quando"chove" e o chapéu de chuva é só nosso... não podemos molhar o rosto?!
E mesmo se faz sol, escondemo-nos na primeira sombra ( até de nós mesmos), num recanto qualquer!
Quando nos revelamos como podemos ou queremos, soltam-se pedaços do que somos e percebemos que o tempo também nos pertence! No abraço dado,o momento de um passeio ,nas cumplicidades, o Viver... Momentos felizes algumas vezes são feitos de gestos simples, no crer e querer!
"Foi em Maio de 1972 – sim, não tarda, há 37 anos – que o Ambrósio concebeu a capa e o arranjo gráfico dos versos que em livro primeiro atirei à rua. É justo aqui salientar o Ambrósio Ferreira pelo seu desvelo, mas foram mais os que se empenharam nesta quase conspirativa ideia de lançar um livro de poemas de combate, contra medos, ventos e marés."
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Não vou falar da obra do Poeta que é vasta e rica não só na poesia como nas crónicas que sempre gostei de ler.
Tenho aqui dois dos livros publicados. "Ro(s)tos do meu País"e "Rebuçados, Caramelos e Sonetos"